Crise sanitária em São Mateus escancara abandono e ameaça ambiental da gestão Nunes
- imprensa5967
- 19 de set.
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Distrito da zona leste sofre com lixo, esgoto a céu aberto e doenças, enquanto Prefeitura falha no Plano de Resíduos e quer derrubar 63 mil árvores para ampliar aterro

Na zona leste de São Paulo, o distrito de São Mateus enfrenta uma crise sanitária grave e crônica. Escoamento de esgoto doméstico sem tratamento, acúmulo de resíduos sólidos pelas ruas ou em terrenos baldios, córregos poluídos e transtornos crescentes em períodos de chuva fazem parte da rotina de milhares de famílias. Apesar de o Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos municipal prever metas ambiciosas, a realidade é que grande parte das promessas permanece no papel — e, pior, a Prefeitura ameaça aprofundar o problema ao propor o corte de mais de 63 mil árvores para expandir o Aterro São João, na região.
O problema se intensifica em comunidades de baixa renda, onde redes de esgoto não chegam, caixas de gordura caseiras são improvisadas ou inexistentes, e todas as cheias — sobretudo em dias de chuva — reviram lixo acumulado, espalham entulho e provocam inundações dentro de casas. Nas vielas, o mau cheiro é constante; nas ruas, ratos, mosquitos e doenças como leptospirose, diarreia e problemas respiratórios se proliferam sem controle. Em São Mateus, muitos moradores relatam que ao menos parte do lixo deixa de ser coletado por dias, acumulando-se em pontos irregulares próximos às moradias, o que agrava ainda mais o risco sanitário, especialmente para crianças, idosos e pessoas com saúde frágil.
O Aterro São João, que recebe milhares de toneladas de resíduos diários da cidade inteira, também representa parte do problema: deslizamentos recentes de “células de lixo” — pirâmides de dejetos empilhados verticalmente — interditaram trechos do aterro e espalharam odores nauseantes por bairros vizinhos. Agora, a intenção da gestão Nunes de devastar uma área de Mata Atlântica para ampliar o aterro não só ameaça um dos poucos respiros verdes da zona leste, mas também agrava os impactos sobre solo, lençol freático e qualidade do ar da região.
A gestão prometeu implementar ecopontos, centrais de triagem, regularização de aterros sanitários, ampliação da coleta seletiva e erradicação de lixões, mas os cronogramas estão atrasados ou incompletos para São Mateus. Muitos dos ecopontos existentes ficam distantes ou têm acesso complicado, o que reduz fortemente sua efetividade. A coleta seletiva, prevista como política permanente, permanece restrita e com baixos índices de adesão.
Além disso, a falta de esgotamento sanitário é um problema estrutural. No bairro em questão, como em outras periferias, muitas ruas ainda não têm ligação à rede de tratamento, e a privatização da Sabesp piorou essa situação. Moradores contam que esgoto corre livremente para córregos ou terrenos baldios, misturando-se ao lixo, contaminando solo e lençóis freáticos e gerando infestação de vetores de doenças. A drenagem urbana também é precária: quando chove, as águas pluviais carregam resíduos sólidos entupindo bueiros, alagando ruas e invadindo casas.
A crise em São Mateus evidencia que políticas sanitárias e ambientais não são luxo — são questão de sobrevivência. Qualquer plano que ignore a realidade das periferias é plano que condena famílias inteiras a condições indignas. Enquanto a Prefeitura cogita devastar 63 mil árvores, o básico ainda não foi feito: saneamento, coleta de lixo adequada, drenagem e esgoto tratado. É urgente inverter a lógica e priorizar a vida de quem mora — e resiste — na periferia.
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