Tentativa de cassação de Paula da Bancada Feminista evidencia violência política de gênero na Alesp
- imprensa5967
- 19 de set.
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Pedido apresentado por deputado bolsonarista se baseia em acusação feita por mulher vítima de agressão; oposição vê uso político de processos institucionais

O deputado estadual bolsonarista Lucas Bove (PL-SP) protocolou representação no Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) pedindo a cassação do mandato coletivo da Bancada Feminista do PSOL, após a codeputada Paula Nunes ter divulgado nas redes sociais que ele teria sido acusado de agressão por sua ex-esposa, a influenciadora Cíntia Chagas. Bove alega que essa divulgação configuraria “fake news”, difamação ou calúnia, e que Paula ultrapassou limites aceitáveis ao identificá-lo publicamente como “agressor de mulher”.
A acusação contra Bove data de setembro de 2024, quando Cíntia registrou boletim de ocorrência alegando agressões físicas e psicológicas, pediu medida protetiva e deu início a investigação em delegacia especializada. Um dos episódios narrados envolveu o arremesso de uma faca, que teria atingido sua perna, durante um jantar em Ribeirão Preto, quando ela se negou a posar para foto com personalidades públicas apoiadoras de Bolsonaro.
Na votação de admissibilidade para cassação do deputado, o Conselho de Ética da Alesp arquivou a representação por seis votos a um. A única parlamentar que votou a favor foi Ediane Maria (PSOL-SP), que também é a única mulher presente no conselho no momento da votação. Algumas deputadas do PSOL sustentam que o arquivamento reflete conluio institucional para proteger parlamentares acusados, especialmente homens, em casos de violência de gênero.
Para Paula Nunes, a ação de Bove é claramente uma tentativa de intimidação política. Em comunicado, ela afirma que questionar o mandato da Bancada Feminista por denunciar violência seria reproduzir uma prática de silenciamento. “É sintomático que a resposta dele seja solicitar a cassação do mandato democraticamente eleito, que tem compromisso com a defesa das mulheres”, disse.
O episódio ganhou repercussão também porque mostra a fragilidade institucional diante de denúncias de agressão — mesmo com boletim de ocorrência e medida protetiva — quando o acusado é figura política. A votação ocorrida em agosto de 2025 para decidir se o caso avançaria para análise de mérito decorreu apenas da admissibilidade, ou seja, decidir se o processo seguia. O mérito, com punição ou cassação, sequer foi debatido.
Esse caso evidencia o uso estratégico dos instrumentos institucionais para atacar quem denuncia, especialmente mulheres negras e militantes. Também reforça a necessidade de mecanismos de proteção real e efetiva para parlamentares que atuam em defesa de direitos humanos, para que denúncias não sejam transformadas em perseguição política.
Enquanto isso, campanhas de apoio foram organizadas nas redes sociais e na base do PSOL, com manifestos em torno da hashtag “Bancada Feminista Fica”, relembrando que o mandato coletivo obteve cerca de 260 mil votos em 2022 e representa uma voz forte contra a violência política de gênero.
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