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Metade da população de São Paulo pode ficar sem água em meio à crise hídrica

  • imprensa5967
  • há 13 horas
  • 2 min de leitura

Reservatórios operam em níveis críticos enquanto especialistas apontam que privatização da Sabesp agrava o problema ao priorizar lucro em vez de investimentos em manutenção e gestão da crise


Foto: Luis Moura/Estadão Conteúdo
Foto: Luis Moura/Estadão Conteúdo

Mais de 24 milhões de pessoas no estado de São Paulo já enfrentam algum tipo de restrição no abastecimento de água. A crise hídrica, a pior desde 2014, atinge os 39 municípios da Região Metropolitana, incluindo a capital, e pelo menos sete cidades do interior como Bauru, Americana, Rio Claro, Birigui, Valinhos, Salto e Tambaú.


Os dados são alarmantes: o Sistema Integrado Metropolitano opera com apenas 26,6% do volume útil, enquanto o Sistema Cantareira – responsável por 41% do abastecimento da Grande São Paulo – está com 21,6%. São níveis considerados críticos por especialistas, especialmente às vésperas do verão.


Embora a Sabesp e o governo estadual insistam que não há racionamento, apenas "redução de pressão" no período noturno, a realidade nas periferias e bairros mais distantes é outra. Moradores relatam ficar sem água por períodos prolongados, com a baixa pressão impedindo que a água chegue às caixas d'água, especialmente em áreas mais altas.


Privatização aprofunda a crise


A situação se agrava com a privatização da companhia, concluída em julho de 2024. Especialistas apontam deterioração perceptível na qualidade dos serviços desde então. Infiltrações de esgoto na rede de água, lançamentos irregulares nos rios Tietê e Pinheiros, e falhas em elevatórias tornaram-se mais frequentes, segundo denúncias registradas no Procon e na imprensa.


Amauri Pollachi, ex-diretor da Sabesp e conselheiro do Observatório Nacional dos Direitos à Água e Saneamento, é categórico: a empresa passou a priorizar cortes de custos e maximização de lucros no menor prazo possível. Durante a crise de 2014-2015, quando ainda era pública, a Sabesp implementou bônus de redução de consumo com adesão de 86% da população. Agora, sob gestão privada, a estratégia foi abandonada – economizar água significa reduzir lucro dos acionistas.


Em Bauru, bairros ficam até 72 horas sem abastecimento devido ao rodízio. Tambaú precisa de caminhões-pipa. São Caetano do Sul reconheceu publicamente que vive racionamento. Enquanto isso, o discurso oficial segue negando.


Contexto estrutural


O protocolo de escassez hídrica da SP-Águas não registra nenhuma região do estado em situação normal. A maioria está em alerta, com 18 regiões em situação crítica. Quatro áreas já decretaram emergência hídrica: duas na região central, próximas a Lençóis Paulista, uma no Vale do Paraíba e outra no litoral sul.


As chuvas voltaram nos últimos meses, mas seguem abaixo da média histórica. O estado acumula nove meses consecutivos com déficit de precipitação. Segundo o Consórcio PCJ, outubro de 2025 teve precipitação 3,4% abaixo da média.


Especialistas alertam que, sem planejamento adequado e precipitação suficiente, São Paulo pode registrar novo colapso no abastecimento já em 2026. A situação expõe a fragilidade da gestão dos recursos hídricos e a vulnerabilidade da população diante de uma crise anunciada – agravada por um modelo que coloca rentabilidade acima do direito à água.

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