Cultura | "Migrar": nova exposição do Museu da Imigração amplia vozes e narrativas sobre migração no Brasil

Mostra abre ao público em 9 de dezembro com 11 módulos sobre territórios, viagens e deslocamentos, incluindo narrativas de indígenas, negros, refugiados e migrantes internos historicamente invisibilizados

Foto: Divulgação

O Museu da Imigração inaugura no dia 9 de dezembro a exposição de longa duração "Migrar – Histórias Compartilhadas Sobre Nós", que marca uma mudança de posicionamento institucional ao ampliar as perspectivas sobre a temática migratória. A mostra rompe com narrativas que durante muito tempo priorizaram histórias das migrações internacionais do passado, especialmente aquelas vindas da Europa e da Ásia associadas ao ciclo do café entre os séculos XIX e XX.

A exposição foi produzida a partir de um projeto curatorial colaborativo que, desde 2022, promoveu escuta com migrantes, refugiados, acadêmicos, ativistas e moradores do entorno. O resultado é uma mostra que reconhece a legitimidade de múltiplas trajetórias e destaca que a pluralidade dessas histórias permite enxergar os deslocamentos como fenômeno constitutivo da humanidade.

Vozes historicamente silenciadas

Um dos pontos centrais é a inclusão de grupos invisibilizados na história oficial do Brasil, como indígenas, negros, refugiados e apátridas. Essa escolha curatorial busca superar a falácia atrelada ao racismo do "mito da democracia racial", que encobriu violências fundadoras da sociedade brasileira.

O módulo "Deslocamentos Indígenas e Negros" reafirma o compromisso em participar do debate sobre os impactos do racismo para a história nacional. A mostra traz instalação da artista Adriane Kariú – que mescla fotografia e inteligência artificial para falar da invisibilização indígena – e HQs de Marcelo D'Salete sobre a resistência da cultura negra.

O módulo "Migrações Internas" dedica-se às pessoas vindas de outras regiões do Brasil, fundamentais para o desenvolvimento de São Paulo. Com fotografias, depoimentos e instalação de cordéis, a exposição reconhece que a migração brasileira não se limita aos deslocamentos internacionais.

Experiência imersiva e acessível

Totalmente reformulada, a exposição conta com onze módulos que abordam territórios, fronteiras, viagens, imigração no Brasil e diáspora brasileira. A mostra amplia a relação entre migrações e arte contemporânea, com obras de seis artistas visuais de diferentes origens: Adriane Kariú, Paulo Chavonga, Daniel Jablonski, Marcelo D'Salete, Marco Haurélio e Lucélia Borges.

O módulo "Viagem" convida a uma experiência de conexão através de projeção imersiva com imagens reais de deslocamentos, mapas interativos, depoimentos e objetos que mostram os desafios dos trajetos migratórios.

Considerando a ligação afetiva com a Hospedaria de Imigrantes do Brás, itens inéditos do acervo foram incorporados. A instalação que reproduz as camas da antiga Hospedaria ganhou interatividade: as pessoas poderão deitar e ouvir relatos de migrantes que passaram pelo local. Novos recursos de acessibilidade foram aplicados às gavetas com cartas históricas, que agora contam com narração e Braille.

O "Observatório MI" é um espaço de diálogo entre o Museu, visitantes e instituições ao redor do mundo, com recursos audiovisuais atualizáveis que permitem constantes mudanças de conteúdo, reconhecendo que as migrações são fenômeno em movimento permanente.

"Migrar – Histórias Compartilhadas Sobre Nós" representa uma oportunidade de conhecer narrativas frequentemente apagadas da história oficial e compreender a complexidade dos deslocamentos humanos para além dos recortes tradicionais.

Migrar – Histórias Compartilhadas Sobre Nós

Local: Museu da Imigração – Rua Visconde de Parnaíba, 1316, Mooca, São Paulo/SP

Abertura: 9 de dezembro de 2025

Horários: Terça a sábado, das 9h às 18h | Domingo, das 10h às 18h(Encerramento da bilheteria às 17h)

Ingressos: R$ 16 (entrada gratuita aos sábados)

Mais informações: museudaimigracao.org.br