Nunes deixa 20 mil pedidos de poda sem resposta na entrada da temporada de chuvas

Apenas 25% das solicitações foram atendidas em Itaquera enquanto bairros nobres têm quase 100% de eficiência; disparidade orçamentária expõe política de duas cidades

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

A chegada da temporada de chuvas intensas encontra São Paulo com 19.175 solicitações de poda e remoção de árvores em aberto até setembro de 2025. O distrito de Itaquera, no extremo leste, lidera o ranking do abandono: apenas 24,7% dos pedidos foram atendidos entre janeiro e setembro, o pior índice da capital. Das 1.886 solicitações registradas pelos moradores, somente 466 receberam resposta da prefeitura.

O descaso com Itaquera não é novidade. No ano passado, no mesmo período, a região esteve na mesma posição, com somente 37% dos pedidos atendidos. A situação se repete ano após ano, transformando o que deveria ser manutenção preventiva em risco permanente para a população.

A política das duas cidades

Os números escancaram a desigualdade na gestão de Ricardo Nunes (MDB). Enquanto Itaquera amarga 75% de solicitações ignoradas, o distrito de Pinheiros, que inclui a região dos Jardins, teve 93,3% dos pedidos atendidos no mesmo período. A diferença não se explica apenas por orçamento: Jabaquara teve 100% das solicitações atendidas com R$ 7,6 milhões, enquanto Itaquera executou apenas 24,7% apesar de contar com R$ 9,4 milhões.

A vereadora Silvia Ferraro (PSOL) é direta na crítica. A parlamentar acusa a Prefeitura de lentidão no atendimento das solicitações, "criando um acúmulo de demanda que já se tornou estrutural". Para Ferraro, quando a Prefeitura se omite dessa responsabilidade, aumenta a probabilidade de queda de galhos sobre a rede elétrica, causando interrupção de energia e prejuízo direto à população.

O padrão de negligência se repete em outras periferias. Cidade Tiradentes teve 28,3% dos pedidos atendidos, Pirituba-Jaraguá 39,6%, Casa Verde-Cachoeirinha 42,3% e Vila Maria-Vila Guilherme 46,1%. Todas essas regiões concentram população de baixa renda e historicamente recebem menos investimentos.

Orçamento desigual e execução ineficiente

A disparidade orçamentária revela as prioridades da gestão Nunes. Pinheiros tem R$ 16,5 milhões destinados à Manutenção e Operação de Áreas Verdes, enquanto Itaquera conta com R$ 9,4 milhões – quase metade do recurso para uma região com população muito maior e mais vulnerável.

Mas nem mesmo o orçamento disponível está sendo usado adequadamente. Com R$ 9,4 milhões à disposição, Itaquera executa menos de um quarto dos pedidos, evidenciando má gestão e falta de prioridade política para a região.

Risco concreto para as periferias

O manejo arbóreo é fundamental para prevenir acidentes durante tempestades. A omissão da prefeitura coloca em risco a vida dos moradores e a rede elétrica, agravando os já recorrentes apagões que atingem a capital.

A autônoma Marisol Elizabete Vasquez Morales Martins, 48 anos, moradora de Itaquera, conhece bem o problema. Segundo ela, moradores pediram a retirada de uma árvore há cerca de quatro anos e fizeram abaixo-assinado. A árvore tinha cerca de 40 anos e suas raízes quebraram a calçada, obrigando idosos a se arriscarem na avenida para não cair. Quando a prefeitura finalmente removeu o exemplar, o trabalho se arrastou por três dias seguidos.

Os números oficiais da Secretaria Municipal das Subprefeituras informam que foram podadas 152.113 árvores e removidas outras 12.740 neste ano, com equipes aumentadas em 32%. A pasta afirma ainda que a Subprefeitura Itaquera realiza mutirão de podas, com 619 árvores já podadas e outras 410 programadas.

Porém, os dados não mudam a realidade dos moradores que aguardam há anos por serviços básicos. Com a temporada de chuvas se aproximando e a previsão de temporais intensos, a omissão da gestão Nunes transforma o período em ameaça concreta para quem mora nas periferias – enquanto bairros nobres seguem com manutenção em dia e orçamentos robustos.