PMs agridem pessoa com deficiência e aterrorizam moradores em ação brutal na zona leste de SP
- imprensa5967
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Vídeos mostram policiais dando voadora, usando cassetete e jogando spray de pimenta em moradores da Vila São Nicolau; mulher levou dois pontos na cabeça e versão da PM contradiz relatos

Moradores da Vila São Nicolau, na zona leste de São Paulo, denunciaram uma ação violenta de policiais militares ocorrida na tarde do último domingo (30). Vídeos gravados por câmeras de segurança e celulares mostram PMs dando voadora, socos, golpes de cassetete e lançando spray de pimenta contra pessoas que estavam na rua, incluindo um homem com deficiência e uma mulher que precisou levar pontos na cabeça.
A ação começou por volta das 18h30, na Rua Cachoeira São Benedito. O local estava movimentado em um domingo comum: crianças andavam de bicicleta e adultos conversavam sentados na calçada, até que duas viaturas da Polícia Militar chegaram cantando pneu.
Agressões indiscriminadas registradas em vídeo
As imagens revelam a brutalidade da abordagem. Um homem que estava sentado em uma cadeira é derrubado e recebe spray de pimenta no rosto. A pessoa com deficiência, identificada pelos moradores como residente da rua, foi agredida com voadora e cassetete. Outros policiais chegaram ao local ordenando que todos se afastassem, causando pânico entre os presentes.
Um morador que tentou proteger sua família relatou: "Eu falei 'Calma, policial, minha filha está aqui'. Do nada, o policial me deu uma voadora. Eu só queria tirar minha família dali". A declaração expõe o clima de terror instaurado durante a operação policial em um bairro residencial.
Uma moradora que não quis se identificar por medo de represálias foi levada ao hospital, onde recebeu dois pontos na cabeça e ainda apresenta marcas nos braços. Segundo ela, tentou apenas avisar os PMs de que o homem sendo agredido era um morador da rua. "Veio eu e um vizinho falar que esse morador, que o rapaz que eles estavam agredindo, era apenas um morador da rua que também é um outro senhor", relatou.
A mulher contou que foi atingida por um banco arremessado por um policial e também recebeu spray de pimenta e golpes de cassetete. Seus ferimentos contradizem frontalmente o boletim de ocorrência registrado pelos próprios PMs.
Versão oficial contradiz feridos e vídeos
No boletim de ocorrência, os policiais afirmaram que estavam em patrulhamento quando foram acionados por um morador vítima de tentativa de roubo. Segundo o relato oficial, eles alcançaram uma moto e o motociclista tentou fugir, sendo detido pouco depois. O homem foi identificado como Igor.
A versão dos PMs segue: moradores teriam tentado impedir a prisão de Igor arremessando pedras e garrafas contra a equipe, colocando em risco a vida dos policiais. Os agentes afirmaram que, para evitar agressão ao grupo, o soldado Bastos efetuou cinco disparos. No boletim, os policiais classificaram a ação como "positiva", alegando que ninguém — nem moradores, nem PMs — ficou ferido.
A narrativa oficial, porém, é amplamente contestada pelos residentes e desmentida pelos ferimentos documentados. A mulher que precisou levar pontos na cabeça é prova viva de que a versão da PM não corresponde à realidade. Os vídeos mostram claramente agressões contra pessoas desarmadas que estavam sentadas ou apenas observando a cena.
Padrão de violência nas periferias
O caso da Vila São Nicolau não é isolado. A zona leste de São Paulo tem sido palco recorrente de operações policiais marcadas por uso desproporcional da força, especialmente em bairros de periferia. A violência policial contra pessoas em situação de vulnerabilidade — incluindo pessoas com deficiência — expõe a necessidade urgente de debate sobre a atuação das forças de segurança e os direitos fundamentais dos cidadãos.
A comunidade local, que frequentemente se vê como alvo de operações policiais, agora se une em protesto contra a violência e a falta de respeito aos direitos humanos. Moradores relatam clima de medo e insegurança não apenas em relação à criminalidade, mas em relação à própria polícia que deveria protegê-los.
A Secretaria de Segurança Pública não se pronunciou especificamente sobre o caso até o momento. A Polícia Militar costuma alegar que investiga as ocorrências por meio de Inquérito Policial Militar, mas raramente esses processos resultam em punições efetivas aos agentes envolvidos em abusos.
Enquanto isso, os moradores da Vila São Nicolau convivem com os traumas da violência sofrida. A mulher ferida carrega marcas físicas e psicológicas. O homem com deficiência agredido vive no mesmo local onde foi brutalmente atacado. E as famílias que testemunharam a cena seguem sem saber se estarão seguras na próxima vez que viaturas aparecerem na rua.



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