60% das habitações populares financiadas por bancos são para investidores, revela CPI das HIS
- imprensa5967
- há 5 dias
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Comissão que enfrentou resistência da base de Ricardo Nunes expõe distorções graves em programas habitacionais de São Paulo e questiona a responsabilidade da Prefeitura

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Habitações de Interesse Social (HIS) da Câmara Municipal de São Paulo revelou um dado escandaloso: 60% das unidades habitacionais financiadas pelos bancos Itaú e Bradesco entre 2021 e 2025 foram adquiridas por investidores, e não por famílias de baixa renda. Os números, fornecidos pelos próprios bancos à CPI, apontam um desvio da função social dessas políticas e reforçam denúncias de especulação imobiliária com subsídio público.
De acordo com os dados apresentados, o Itaú financiou 1.833 unidades para pessoas físicas, sendo 1.105 destinadas a investidores e apenas 728 para famílias com intenção real de moradia. Já o Bradesco também admitiu distorções em sua carteira, com financiamentos para imóveis de interesse social que acabaram concentrados nas mãos de pessoas jurídicas e de compradores com múltiplos imóveis, contrariando o objetivo do programa.
A CPI, instalada após forte pressão da oposição e de movimentos populares, enfrentou tentativas de obstrução da base do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que buscou adiar a investigação até o último momento. A resistência do governo municipal levanta suspeitas sobre a relação da Prefeitura com o setor imobiliário e financeiro, especialmente diante das sucessivas denúncias de irregularidades em programas habitacionais da cidade.
Os vereadores membros da CPI agora cobram explicações da gestão municipal e das instituições financeiras sobre a falta de fiscalização nos critérios de renda e uso dos imóveis financiados. A comissão já aprovou a convocação de representantes de bancos, construtoras e incorporadoras para depor. Segundo o relatório parcial, o modelo atual de financiamento tem beneficiado o mercado e investidores, em detrimento das famílias que mais necessitam de moradia.
Para especialistas e parlamentares que acompanham o caso, o escândalo revela como o direito à moradia tem sido corroído pela lógica do lucro. Ao permitir que unidades populares sejam compradas e revendidas por investidores, a Prefeitura e os bancos alimentam a especulação, afastando os programas públicos de seu propósito original: garantir teto e dignidade para quem vive nas periferias e enfrenta o déficit habitacional.
A CPI segue colhendo depoimentos e deve apresentar em breve um relatório final com recomendações e possíveis encaminhamentos ao Ministério Público. O caso se soma a uma série de denúncias que envolvem a política habitacional da gestão Nunes, cada vez mais associada à precarização e ao favorecimento de interesses privados.



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